domingo, 23 de setembro de 2012

Palavras de pesquisadores a respeito do Batuque e Lundu


Neste texto, buscamos enfatizar descrições dadas por pesquisadores importantes dos gêneros aqui abordados: Batuque e Lundu. Veja o que diz Johann Moritz Rugendas (1802-1858):

A dança habitual do negro é o batuque. Apenas se reúnem alguns negros e logo se ouve a batida cadenciada das mãos; é o sinal de chamada e de provocação à dança. O batuque é dirigido por um figurante; consiste em certos movimentos do corpo que talvez pareçam demasiado expressivos; são principalmente as ancas que se agitam, enquanto o bailarino faz estalar a língua e os dedos, acompanhando um canto monótono, os outros fazem círculos em volta de dele e repetem o refrão (RUGENDAS, 1979, p. 279).

         Batuque. Johann Moritz Rugendas, Viagem pitoresca através do Brasil, 1835.

Através dessa descrição, podemos notar que o batuque não necessita de instrumentos musicais para acontecer, apenas a batida das mãos marcando o ritmo e a cantilena entoada em grupos era suficiente. Porém há outra descrição dada pelo francês G. W. Freireyss que se diferencia um pouco desta. Durante sua estada no Brasil entre 1814 e 1815, o viajante constatou que:

Entre as festas merece menção a dança brasileira a Batuca o (batuque). Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola) move-se o dançador no centro, avança e bate com a barriga na barriga de outro da roda, de ordinária pessoa de outro sexo. No começo o compasso da música é lento, porém, pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada; e assim passam noites inteiras. Não se pode imaginar um dança mais lasciva do que esta, razão porque tem muitos inimigos, especialmente entre os padres. (FREIREYSS, 1906, p. 214.)

É quase unânime entre os pesquisadores de nossa música popular a aceitação de que o batuque original dos negros gerou o lundu a partir da adaptação da coreografia de danças ibéricas, em especial o fandango, até mesmo com a incorporação de instrumentos como o berimbau, marimba, tambores, chocalhos, reco-recos.
A mais antiga referência documental ao lundu data de 10 de junho de 1780 e já faz menção à semelhança com o fandango. Trata-se de uma carta do conde de Pavolide, D. José da Cunha Grã Athayde e Mello, em que responde ao ministro Martinho de Mello e Castro sobre uma denúncia de que em Pernambuco eram cultivadas “danças africanas que vinham já de remotas épocas” e consideradas “torpes e escandalosas” aos bons costumes.
Essa semelhança de coreografia foi mencionada por diversos viajantes, em diferentes locais e épocas. O inglês Thomas Lindley, quando presenciou uma dança de negros na Bahia afirmou que a coreografia era um “misto de dança da África e fandango da Espanha e Portugal”.
No Rio de Janeiro, uma segunda gravura de Rugendas retratando o lundu nos mostra um casal branco executando passos da dança, rodeado por várias pessoas de sua cor e também por negros. Chama-nos a atenção o movimento dos quadris da dançarina e as castanholas nas mãos de seu par. No registro escrito, Rugendas identifica ainda a semelhança da coreografia com as danças ibéricas:

Outra dança negra muito conhecida é o “lundu” também dançada pelos portugueses, ao som do violino, por um ou mais pares. Talvez o “fandango”, ou o “bolero”, dos espanhóis, não de passem de uma imitação aperfeiçoada dessa dança. (RUGENDAS, 1979, p. 280).

Outro aspecto da dança do lundu, registrado por Rugendas, 
 desta vez em habitações de escravos, também no Rio de Janeiro.

Nas últimas décadas do século XVIII, já consolidado como dança, é que o Lundu foi aos poucos sendo aceito pelas classes sociais dominantes, ultrapassando os limites dos territórios e ganhando os salões encerados das casas da aristocracia local.


Referências:

FREIREYSS, Georg Wilhelm. “Viagem ao interior do Brasil nos anos de 1814-1815” (tradução de Alberto Löfgren), Revista do Instituto Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 11, p. 214, 1906.


RIBEIRO, André. A Música na Corte de D. João VI. Coordenação: Paulo Roberto Pereira, 1ª ed. São Paulo: Editora Martins, 2008.


RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. (tradução de Sérgio Milliet), 8ª ed. São Paulo: Edusp, 1979.

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