domingo, 25 de novembro de 2012

“Ingoma” Primeiro nome para o Batuque brasileiro e Lundu Marajoara - Representação atual do Lundu



Na África banto, ingoma significa tambor, assim como tudo o que gravita em torno desta entidade, central nas culturas africanas: canto, dança, reunião festiva. Trazido para o Brasil pelos escravizados do Congo, de Angola e de Moçambique, esse vocábulo conservou semelhante campo semântico, e nos servimos dele (na sua forma brasileira, ingoma) para designar as danças de terreiro afro-brasileiras, as quais frequentemente ainda utilizam velhos tambores de tronco escavado, elemento importante no celebrar a memória do povo negro na diáspora. Essas danças e cantos remontam às festas noturnas dos africanos, principalmente os de etnia banto (congo-angola) escravizados nas unidades rurais de produção, como engenhos açucareiros do nordeste brasileiro e fazendas de café de Sergipe. Estes eventos, retratados como pagãos lascivos e perigosos pela crônica colonial, eram designados genericamente como Batuques pelos cronistas.
O antropólogo Edison Carneiro aponta em 1960 características comuns a tradições “herdeiras do batuque angola-conguês” no Brasil, que ele classifica como Sambas de Umbigada. Ele assinala a presença deste tipo de manifestação, cujo traço comum é a presença da umbigada na dança, além de outras características em onze estados brasileiros. Ingoma é palavra que designa a herança recebida dos antepassados, é como os Arturos chamam o grupo de dançantes ou a própria festa. Palavra que remete ao étimo bantu ngoma, que significa precisamente "tambor".
As Ingomas ou Batuques atuais continuam a apresentar estruturas/formas semelhantes por todo o Brasil: além dos tambores esculpidos em troncos e afinados a fogo e da umbigada (efetiva ou sugerida) na dança, a linguagem poética metafórica, ademais do contexto liminar sacro-profano em que ocorre o festejo.

Como já discorremos ao longo desse blog, o "Lundu" é uma dança de origem africana trazida para o Brasil pelos escravos. A sensualidade dos movimentos já levou a Corte e o Vaticano a proibirem a dança no século passado. No Brasil o "Lundu", assim como o "Maxixe" (a dança excomungada pelo Papa), foi proibido em todo Brasil por causa das deturpações sofridas em nosso país. Mas, mesmo às escondidas, o "Lundu" foi ressurgindo, mais comportado, principalmente em três Estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e na Ilha do Marajó, no Pará.
O Lundu foi à primeira forma de música negra que a sociedade brasileira aceitou e, graças a ele, o negro deu à nossa música algumas características importantes, como a sistematização da síncopa e o emprego da sétima abaixada. “Para aceitar integralmente o lundu, a sociedade colonial brasileira transformou-o em canção, libertando-se de uma coreografia que certamente a escandalizava e irritava as suas pretensões de brancura” (ALVARENGA, 1950, p. 150-1).
A última reserva autêntica do lundu está na ilha do Marajó, no Pará. Uma modalidade do lundu, a dança de roda, ainda é praticada na Ilha de Marajó e nos arredores de Belém, no estado do Pará, recentemente grupos culturais do entorno do Distrito Federal (região limítrofe do DF e de Goiás) reiniciaram essa prática.
As mulheres se apresentam com lindas saias longas, coloridas e bastante largas, blusas de renda branca, pulseiras, colares, brincos vistosos e flores no cabelo. Os homens vestem calças de mescla azul-claros e camisas brancas com desenhos marajoaras. Os pares se apresentam descalços. A dança simboliza um convite que os homens fazem às mulheres "para um encontro de amor sexual".
No início as mulheres se negam a acompanhar os homens, mas depois de grande insistência, eles terminam conquistando as mulheres, com as quais saem do salão dando a ideia do encontro final. O acompanhamento musical da dança é Rabeca (violino); Clarinete, reco-reco, ganzá, banjo, e cavaquinho.




Referências:


ALVARENGA, Oneyda. Música Popular Brasileira. Porto Alegre: Globo, 1950.

A força da religião dos Arturos. Disponível em: http://www.pucsp.br/nures/revista7/nures7_rosangela.pdf. Acesso: novembro de 2012.